domingo, 26 de julho de 2009

Sobrevivência Humana: Petróleo e Nossos Hábitos

Vamos todos confessar um para o outro aqui: qual é a principal pergunta feita por nós mesmos quando se fala em uma possível crise mundial?

A resposta: “
Quando isso vai acontecer?!

E as respostas que sempre recebemos em seguida são expressas em milhões de anos para o fim do Sol e até décadas para o fim das reservas de petróleo. O que acontece depois? Fazemos uma longa expiração ("
Ufa!"), sorrimos e deixamos a vida continuar do jeito que está! Afinal, isso será preocupação das gerações futuras.

Do mesmo jeito que herdamos problemas de nossos antepassados (desigualdade social, poluição e destruição de ecossistemas), parece que nós estamos sempre repetindo os erros e negando-se ao mínimo de esforço por um futuro melhor, apesar de não estarmos vivos nele.

Antes de falar do petróleo, o principal ponto deste post, segue um exemplo de como nós temos sido covardes em enfrentar de verdade os mais graves problemas ambientais. No ano passado, eu, os professores Plínio Delatorre (biofísico), Beatriz Tupinambá Freitas (bioquímica), José Carlos Freitas (químico analítico) e nossos alunos fomos convocados pela Justiça Federal para realizarmos uma avaliação técnica-científica de diversos aspectos do depósito de lixo (sig., lixão e não aterro) da cidade de Juazeiro do Norte/ CE (Proc. No. 2000.81.00.014535-6/ Ação Civil pública movida pelo Ministério Público Federal e IBAMA contra o município de Juazeiro). À parte de todos os aspectos técnicos, as fotos abaixo, tiradas no depósito de lixo de Juazeiro do Norte pelo meu orientado, Samuel Cardozo Ribeiro, são bem mais informativas do que qualquer coisa que eu tenha escrito:

Esse é um dos nossos maiores problemas que se repetem no mundo inteiro, décadas a fio. Há dias vimos estarrecidos na TV a importação ilegal de lixo da Inglaterra para o Brasil, prática que reflete bem o início do post: estando eu bem, que se explodam os outros! Nesse caso, uma Inglaterra limpa, um Brasil sujo!

Quero que vocês, meus queridos amigos, entendam definitivamente que se forem em um estabelecimento qualquer e lá estiverem numa campanha contra as sacolas plásticas pela natureza, saiba que deveríamos fazer o mesmo com todos os recipientes plásticos, ou de nada adianta. Você não joga uma sacola, mas alimenta o lixão acima que continuará lá como um leviatã devorando rios, intoxicando os lençóis freáticos da água que bebemos.

Ou temos um programa de reciclagem sério e de larga extensão, ou o que fazemos não passa de uma atitude pequena burguesa. Calma, explico, uma atitude assim é se sentir bem não fazendo quase nada, tipo "
pronto não joguei uma sacola fora hoje", mas os mesmos hábitos no geral continuam. Sendo mais explícito ainda, nós todos sabemos que ninguém deixa de engordar por comer em um rodízio. Empanturrar-se de carne e gordura, depois tomar um “refrigerante diet” não faz diferença, o resultado geral é o mesmo: aumento de peso. Em todos esses casos quem ganha é quem vende, poupa o dinheiro da sacola (crescem os lucros, porque o preço poupado com as sacolas não é diminuído nas compras), ou com a venda do refrigerante diet. A boa ação de melhorar o mundo, ou não aumentar de peso na realidade não foram feitas: os lixões continuam e a obesidade também!!!

Calma novamente, antes de jogarem pedras em mim, ou perguntar, “
pelo menos uma sacola plástica já é algo”. Infelizmente, não é suficiente!!!

Agora, vamos até uma boa pizzaria. Antes da pizza, peça um suco de laranja e quando a pizza chegar peça outro. Você pode fazer isso muitas e muitas vezes, porque laranjas, trigo, queijo e calabresa são recursos renováveis e absolutamente recicláveis!

Pense com o mundo inteiro, quantas vezes nós teremos a oportunidade de irmos a um posto de combustível abastecer nossos automóveis? Meus caros, petróleo não é renovável e um dia terá um fim. Ao que tudo indica e com a produção/consumo atual (75 milhões de barris/dia), segundo o físico sueco Kjell Aleklett (2007) o “peak oil” (capacidade máxima de produção de petróleo) irá acontecer entre 2008-2018! Após isso, a produção entra em declínio e escassez. Em 2050 a produção será insuficiente para a demanda mundial... Dá para imaginar o que é isso? Vocês podem imaginar um mundo assim? Se não, entendam que estamos na Era do Plástico, tudo em nossa volta é derivado de petróleo... Tudo!!! O computador e seus componentes, a seringa e as embalagens de soro fisiológico, a camisinha e os óculos de sol, o gás da cozinha e aquecimento... Tudo! Sem contar que todas as formas de indústria (ressalto a agricultura para vocês não esquecerem) e transporte de seus produtos dependem de petróleo.

Em 2018 eu terei 47 anos, se tiver saúde e sorte, em 2050 estarei vivo com 79 anos. Eu serei um velhinho em plena crise mundial!!!... "OH NÃO"!!!

Há quem aposte o contrário, os economistas Paul Joseph Watson e Alex Jones (2005) acham que a hipótese do "peak oil" é pura falácia da elite para aumentar o quanto quiser o preço do barril de petróleo. Este ainda pode ser muito explorado por mais de um século sem problemas.

Eu não defendo elite, ou aumento de preço algum. Se Watson e Jones estão certos, teremos muito petróleo ainda para queimar, controlado pela indústria mais poderosa do mundo... Mesmo assim, um dia o petróleo acabará certamente (destruirá vários ecossistemas consigo antes disso). A diferença é que vamos continuar empurrando nossos problemas para as gerações futuras.

Todavia, se a hipótese do "peak oil" estiver correta, dessa vez eu não posso expirar em alívio com a frase “Ufa! Não estarei vivo quando isso acontecer”. Irá acontecer comigo, com vocês, e, pior, com meus filhos.

Vocês podem encher esse post com comentários apontando links de pesquisas com fontes de energias alternativas como a elétrica, nuclear, biocombustíveis (a partir de arroz, grama, beterraba, microalgas, cana de açúcar), solar e hidrogênio da água, ou do ar. Nenhuma dessas alternativas até o momento pode substituir em larga escala o consumo atual de petróleo. É mais fácil até imaginar saídas regionais, por exemplo, um combustível x é mais adequado para região y, combustível w para região z. Em transportes globais como aviões e navios devem ter algo comum e potente.

Bem, apesar disso, vemos poucos esforços e interesse das políticas públicas mundiais em enfrentar a nossa dependência atual e a futura recessão do petróleo. Tudo parece como no exemplo dos lixões, muita propaganda, muita atitude de pequeno burguês e nada de resolver os problemas que vão se acumulando dia após dia.

O barril de petróleo custa hoje US$ 48,54, chegou a US$ 150,00 em meados de 2008. Essa oscilação tem haver com o não controle do mercado internacional, sujeito às especulações sórdidas, atrelado e causador de crises econômicas mundiais. Em entrevista nesta semana à revista
Isto É Dinheiro, Kjell Aleklett alertou para um novo ciclo da disparada do preço do petróleo. Isso também foi alertado por Jeroen van der Veer, presidente mundial da Shell.

Se nada for feito, a premiada escritora norte-americana Antonia Juhasz alerta em seu livro “A Tirania do Petróleo (2009, Editora Ediouro)" para a destruição do meio ambiente e as futuras guerras do petróleo ainda mais graves do que as recentes. “
Prevejo que o preço do petróleo mais que se recuperará se os elementos subjacentes que levaram ao aumento não se modificarem: 1) desregulamentação do mercado futuro do óleo bruto; 2) o poder político e econômico sem precedentes das empresas petrolíferas; e 3) a grande dependência mundial em relação ao petróleo, um recurso que, supostamente, atingirá seu pico global em 2020” (Juhasz, 2009: 10).

Falta ainda comentar um dos aspectos que mais afetam meus pares na academia: e nossos automóveis?! Olha, eu não teria problema algum de voltar a andar de ônibus, fiz isso até o ano passado! Muito embora eu conheça professor de ecologia defensor da natureza com carro de consumo absurdo, mas da “moda”! O meu Gol, graças a pesquisa tecnológica brasileira, é Flex e tem um desempenho entre 10 a 13 km/L!!! A faixa de consumo desejada por Barack Obama para a frota de carros dos Estados Unidos em um futuro próximo... longínquo, ou nunca a ser alcançada. Por que isso? Vai de encontro com os hábitos humanos, mergulhados em um sistema de consumo irracional e pela glorificação de coisas fúteis a qualquer custo!!!

Vamos repetir novamente para deixar claro: o que adianta você comprar apenas um caderno de folhas de papel reciclado, se seu carro é um “tanque urbano” que consume mais do que o dobro de outros carros comuns (menos de 6km/L)?! Conforto? Segurança? Duvido muito e pouco me enganam, pois sei muito bem o significado das coisas e como elas estão em íntimo relacionamento com exibição de
status e poder.

O mundo mudará, quer gostemos ou não! No caso específico da indústria do petróleo, ela terá um fim, quer queiramos ou não, neste século, ou no próximo!

É o fim da humanidade? É o Apocalipse? NÃO!

Lembrem-se sempre que hoje há humanos vivendo em diferentes sistemas sócio-econômicos e culturais. Há caçadores-coletores, monges reclusos em seus mundos, humanos modernos extrativistas e até pequenas sociedades auto-sustentáveis.

Agora, se você não imagina um mundo sem o seu “carrão utilitário da moda”, tenha medo, tenha muito medo das mudanças futuras!!! Para esses últimos, já estão sendo vendidos manuais de sobrevivência no mundo sem petróleo. Novos guias de auto-ajuda que vão fazer muita gente estocar gasolina em casa, como fizeram os americanos na construção de casas com abrigos anti-nucleares durante o auge da Guerra Fria.

Ah! Não poderia perder a oportunidade de também responder em público a um aluno meu que fez o seguinte questionamento: “A revolução industrial foi iniciada com máquinas a vapor, por que não poderíamos voltar para essa tecnologia?

Por que nossa demanda energética cresceu demais e o “vapor” era gerado por CARVÃO!!! Apenas aqui no nordeste a produção de carvão, entre outras agressões, custou à destruição de 99% do único bioma exclusivamente brasileiro: a Caatinga!!! Transformamos em lenha e carvão quase que toda a Caatinga!!! As paisagens do nordeste hoje são tomadas por florestas de xique-xique, jurema, mandacaru e sabiá, em áreas de “descanso”. Um mato denso e espinhoso que cresce para ser cortado novamente, enquanto outras áreas são exploradas. Tudo isso muito diferente da Caatinga Arbórea original. Hoje em dia, essa madeira do sabiá e jurema alimenta a produção de tijolos, pães e pizzas!!! Sabem, a borda crocante com catupiry feita no forno à lenha?!... É o sabor do assassinato de nossa Caatinga.

Foto tirada por mim em 2005 de lenha ilegal apreendida pelo IBAMA em Aiuaba - CE.

Espero que tenham entendido que para mudarmos o mundo atual teríamos que fazer muito mais do que apenas evitar uma sacola plástica, uma doação anual de R$ 50,00, ou tomar um refrigerante diet. Mudar o mundo de verdade compreende um esforço coletivo equivalente a uma revolução dos valores e hábitos humanos ocidentais.

Caso não mudemos, sobreviveremos... Mas, em qual tipo de mundo?!

A Sobrevivência Humana continua... !!!

Links:
http://peakoil.org.uk/
http://www.worldproutassembly.org/archives/2007/05/the_myth_of_pea.html
http://www.energybulletin.net/node/29845
http://ar.groups.yahoo.com/group/redgeoecon/message/142
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u416309.shtml
http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/node/256

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sobrevivência Humana: Apresentação


Vocês já ouviram falar em “peak oil” e o fim da indústria do petróleo?! Sabiam que nosso clima irá mudar radicalmente com ou sem emissões de CO2?! É verdade que pandemias infecciosas estão confirmadas para este século?!
As três perguntas com tons de exclamação envolvem debates atuais sobre (1) recursos não renováveis e crise energética; (2) mudanças naturais (vulcanismo, deriva continental, terremotos, tsunamis, meteoros, inversão magnética dos pólos, máximo solar, etc.) e a ação antrópica para o bem e para o mal; (3) limites biológicos de nossa espécie e todas as ameaças por outros organismos (uns já conhecidos por nós, mas hoje resistentes aos nossos fármacos, outros ainda emergentes).

Ok, ok, não pretendo escrever aqueles textos enormes e muitas vezes chatos sobre “conservação da natureza isso, temos que ser bonzinhos com as flores aquilo”. Afinal, eu sou um biólogo de verdade e não alguém tentando defender ideologias equivocadas, ou mesmo apenas fazer parte da “moda ambientalista” da pequena burguesia. Em meu trabalho com parasitas de animais silvestres tenho visto muita dor na natureza que ainda pode fazer parte de nosso dia a dia humano, apenas citando um dos aspectos do parágrafo anterior.

Quero escrever aqui sobre o que sabemos de verdade, e, onde for possível, as ações de verdade. Por exemplo, leio e escuto com freqüência pessoas que defendem o meio ambiente como se fossem salvar algo para sempre, preservar floras e faunas como se elas fossem sistemas fixos e eternos. Se há algo que é imperioso na história dos sistemas biológicos chama-se mudança. Em outras palavras, evolução para sobreviver e replicar os genes eternos. Nosso planeta mudará de um jeito ou de outro! Claro, nós esperamos que essa mudança não seja para algo hostil à nossa própria sobrevivência.

Só de escrever isso, alguns já ficam de cabelo em pé, mas não confundam um debate sobre a ação nociva de modelos sócio-econômicos humanos (colonialismo/ capitalismo/ imperialismo) com a atividade humana em si sobre a natureza. Nós fazemos parte dela, por ela e para ela. Como qualquer outro ser vivo, somos frutos gerados pela evolução por seleção natural. Nós não somos alienígenas neste planeta!

Em comum acordo, quando éramos apenas caçadores-coletores vivíamos sem sermos os responsáveis pela destruição de ecossistemas e a extinção em massa das espécies. Todavia, sabemos que não somos mais assim, sabemos também que a história não se repete e que mesmo em um chamado mundo “neotribal”, se isso viesse realmente a acontecer, seríamos muito diferentes dos nossos ancestrais das tribos humanas no neolítico.

Nós somos uma espécie que só ocorre neste planeta, ou seja, somos endêmicos da Terra. Hoje não possuímos tecnologia alguma para dominar nosso clima e a evolução das espécies, assim como não podemos fugir daqui para outro lugar. Precisamos de tempo para tentar conseguir avançar nisso, mas tempo é algo que talvez não tenhamos.

Se uma crise global de recursos se estabelecer, como nós nos comportaremos em um mundo quase sem energia elétrica e combustíveis fósseis? Adianto para vocês que nosso comportamento primata para disputa de recursos e território é um só: guerra!

Chimpanzés fazem guerra por território e recursos naturais. Nós, como é de se esperar, fazemos o mesmo, mas de forma muito mais elaborada, entenderam?!

Assim apresento a série Sobrevivência Humana! Nos seis textos que virão abordarei os fatos, exageros e as verdades sobre (1) recursos naturais e crise energética; (2) modelos econômicos e a natureza; (3) fatores naturais (p.e., vulcões, terremotos) e eventos estocásticos da evolução (p.e., extinções em massa, equilíbrio pontuado); (4) doenças infecciosas; (5) limites biológicos dos seres humanos; e (6) a verdadeira ciência contra as previsões esotéricas do fim do mundo.

A vida na Terra é um rio que começou a correr há 3,5 bilhões de anos e chegou até você e a mim, no meio de uma diversidade espetacular” (Varella, 2000: 8). Até quando esse rio da vida continuará correndo? Até quando estaremos nele? Afinal, nada é eterno e tudo se transforma!

A Sobrevivência Humana!
Referência: Varella, D., 2000. Macacos. Publifolha.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Foot of the Mountain


Esse é o mais novo vídeo da banda A-ha que mais influenciou a minha adolescência:


Passados 37 anos, ainda fico surpreso como músicas simples assim me tocam.

Andar por multidões, festas e regojizos de modas nunca me atraíram. Ademais, eu também moro no "pé da montanha"... na Chapada do Araripe... e não troco isso por nenhuma metrópole.

No significado das coisas e memória de meu pai estão a vontade de mudar o mundo para melhor. Que seja então aqui no Cariri Cearense, onde envelhecerei e viverei "on the foot of the mountain".

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Esse post é uma homenagem ao meu pai, proletário (frezador profissional), esportista, um homem como qualquer outro, que lutou com suas forças para vencer todas as dificuldades comuns de nosso Brasil.

Te amo, pai! Nunca te esquecerei!

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Obs.: Aguardem, vem aí a série "Sobrevivência Humana".

 
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